sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Galo que sonhei

"Pai, pai!", já gritava o menino de manhã. "Diga, filho.". "Lembra daquela história para sonhar que me contou ontem a noite?". "Lembro, meu pequeno. Você sonhou com o Galo, filho?", perguntava o pai sorridente. "Sonhei, papai. Posso te contar o sonho?"

Antes mesmo que pudesse responder, o menino já emendava. "Papai, o Galo tava dançando.". "Dançando, filho?". "É pai, dançando. Parecia uma dança de outro país. Vi uma bandeira com um sol desenhado nela, e o Galo tava jogando muito papai. O Bernard fez 3! AH, e aquele que faz 'tátátá'..." "Tardelli, filhão". "Isso, papai. Tardelli! Ele tava junto com o Galo, fez até gol. O Galo ganhou de cinco pai. Jogou muito!".

"O sonho foi só isso, filho?". "Não, papai. O Galo jogou muito lá longe e aqui no Horto também. Todo mundo que vinha era atropelado. Parecia guerra, pai. O Galo metralhava quem vinha. Era sempre certeza que a gente ia ganhar de todos. Todo mundo tinha medo do Galo. Nem dó de time do Brasil a gente tinha. Mas eu fiquei com medo, pai.".

"Medo, filho?". "Medo, papai. Medo do meu sonho virar pesadelo. Um tal de Riascos tava na frente do Victor para bater o pênalti, parecia que tudo ia acabar. Você tinha que ver. E aí o Victor virou santo. Todo atleticano entrou ali e chutou com o pé esquerdo junto com ele. Ninguém mais duvidava. Todo mundo acreditava. Mas aí..."

"Aí o que, filhão?". "Aí aquela bandeira apareceu de novo. Só que o Galo não dançou mais, papai. Ficou difícil. A gente perdeu de novo, só que ainda tinha o Independência, né? E aqui não tinha pra ninguém. O Victor mostrou que garantiu o lugar do lado do papai do céu de novo. E tava quase. A gente tava cantando 'eu acredito', igual você me disse ontem, papai. E quase fiquei com medo de novo..."

"Por que, pequeno?". "Porque aí o Galo perdeu lá longe de novo. O jogo não ia ser mais no Independência, ia ser lá naquele estádio grandão, o...". "Mineirão, filho.". "É pai, Mineirão! Mas adivinha, papai? Todo mundo cantou 'eu acredito' de novo. Você tava certo papai, o Galo tava bonito demais.". "E a gente foi campeão, filho?"

"Pai, o Galo não foi campeão.". "Não foi, filho?", questionava o pai, surpreso. "Não, papai. O Galo foi muito mais. Ele se tornou mundial. Colocou todo mundo nos pés dele. Todo mundo queria ser do time do 'Dinho', todo mundo tinha medo e agora todo mundo acreditava. Só a gente que acreditou desde o início né, papai? Valeu a pena ver esse mundão todo nos respeitando, todo mundo com medo da gente. A gente tava mais forte que nunca.". "Valeu a pena, filho... Valeu demais. Agora vamos" - o carregava, já com camisa alvinegra. "É hora de continuarmos deixando o mundo aos nossos pés. Vamos ver o Galo, filhão?"

#vamuGALO
Rafael Orsini

P.S.: Sempre quis fazer esse texto, mesmo após algum tempo. É uma continuação do texto feito após o Atlético x Fluminense de 2012, linkado no início da crônica. Mesmo tardio, o sonho da conquista nunca deixará de ser eterno.

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