sexta-feira, 26 de julho de 2013

Não acordem!

(…) Desfibriladores a postos? – mesmo que não, eu não importaria de morrer ali. O juiz apitou e rolou a bola. Nas arquibancadas alguns faziam promessas de última hora, rezavam para um Deus alvinegro e pediam o título inédito. Afinal, por que não nossa vez se o Olimpia já tinha três?

Os primeiros minutos de jogo eu perdi olhando para o Mineirão lotado, enquanto relembrava os momentos já vividos ali. Embora estivesse um pouco chato depois de reformado, a alma atleticana ainda residia no gigante da Pampulha. Como esquecer de cada vitória que conquistamos ao lado do nosso velho amigo? Busquei nisso uma força a mais para cantar o tempo todo e esquecer, por um momento, o cemitério do Horto.

Quando consegui focar no jogo, a bola veio da direita e triscou a chuteira de Jô. Olhei para o céu e lamentei o artilheiro não ter uns 10 centímetros a mais. O primeiro tempo passava numa velocidade assombrosa, 45 minutos viraram 45 segundos e o relógio se tornava um inimigo do Galo. A torcida não me deixava acordar do sonho. Quando más lembranças vinham à cabeça e o Mineirão assustava, vinha o grito de “EU ACREDITO!” e com ele os milagres de São Victor como flashes em meus olhos. Na cabeça de cada um dos milhões de atleticanos, até mesmo os emprestados para esse jogo, o pensamento era que tudo que passamos na Libertadores não poderia se perder ali, no último jogo. Desde o chute salvador de Luan em Tijuana até o belíssimo gol perdido, sem goleiro, por Bareiro no Defensores del Chaco.

15 minutos de intervalo foram suficientes para recuperar as esperanças, o “EU ACREDITO!” era cantado com mais força que o próprio hino. Cuca deu chance a Rosinei acreditar conosco e nossa crença agora também estava nele. Jô depositou fé na furada do defensor paraguaio e meteu a bola na rede ainda no comecinho da segunda etapa. Valeu a pena confiar! O Mineirão explodiu, lembrando os velhos e saudosos tempos. A crença no sobrenatural e nos jogadores aumentava a cada ataque perigoso. O alvinegro paraguaio assistia o e vez ou outra assustava. Ferreyra nos deu mais um motivo para acreditar que o título estava escrito para ser Atleticano e mais que isso, acreditar em destino, quando driblou Victor e escorregou antes de concluir para o gol aberto. É Ferreyra... você me fez acreditar em Deus mais do que nunca.

Tardelli, o torcedor Atleticano que entra em campo, saiu para dar lugar ao mais novo ídolo Guilherme. O impecável Michel foi trocado por Alecsandro, que seria muito importante alguns minutos depois. Ele recebeu uma bola de Jô na entrada da área e ia chapelando o defensor adversário que, já amarelado, fez mais uma falta dura e foi expulso. Mansur assistiria Réver levantando a taça, mas do vestiário.

40 minutos de segundo tempo se passaram, o Galo jogava com um a mais e o time olimpista teimava em não deixar uma bola entrar e assim permitir que o destino fosse escrito a caneta esferográfica preta (e branca), para que ninguém, nem mesmo tempo, pudesse apagar. “Onde será o disjuntor do Mineirão?” eu perguntei antes de ver Bernard cruzando da direita, na cabeça do nosso centroavante Leonardo Silva, isso mesmo, centroavante. Não consegui comemorar, na hora só lembrei de alguns meses atrás, quando o mesmo Leo Silva marcou aos 47 minutos do segundo tempo contra o Fluminense. Não serei ingrato, obrigado ao time azul que desacreditou que o zagueirão ainda podia render e o deixou vir para o Galo. Aproveito o embalo e agradeço por revelarem Guilherme e também pelo comandante Cuca.

Quando o árbitro apitou o final dos 90 minutos, me veio uma dúvida. Não conseguia decidir se preferiria jogar mais 30 minutos com um jogador a mais ou ir direto para aquele que tinha se tornado nosso fiel amigo, os pênaltis. Quis a Conmebol que na final houvesse prorrogação, e assim foi. A pressão era do Alvingro original enquanto o paraguaio se defendia num respeitoso 9-0-0. Alecsandro até que conseguiu achar um espaço e quase fez um golaço, mas Miranda quis adiar um pouco mais a alegria Atleticana.

No último lance da prorrogação, uma falta para o Olimpia. Na mesma posição daquela aos 47 minutos em Assunção, no mesmo pé direito de Pittoni. Desta vez a bola passou perto, mas não entrou. Seria obra do destino? Milagre dos olhos de São Victor? A camisa de Nossa Senhora do comandante Cuca? A reza de ateus? Pouco importa a resposta, estávamos a 5 chutes de fazer história. Comentei que já estava feliz demais pelo que os jogadores haviam demonstrado em toda Libertadores, agora a taça estava há 11 metros da sede de Lourdes. Independente do resultado, aquele já seria um dos dias mais felizes da minha vida.

A primeira cobrança era do Olimpia. Enquanto todos oravam a São Victor, Miranda pareceu devoto do santo Atleticano. O mesmo pé esquerdo que impediu o despertar do sonho contra o Tijuana nos deu mais força para gritar “EU ACREDITO!”. Não sei se por superstição do fiel Cuca ou por uma escolha feita pelos treinamentos, os batedores do Atlético seriam os mesmos e na mesma ordem da partida contra o Newell's, exceto pelo pé esquerdo de Richarlyson, trocado pelo direito do, já herói, Leo Silva . Victor a cada pênalti batido pelos paraguaios colocava um crucifixo dentro do gol. Talvez por ele a bola de Gímenez fez de tudo para não entrar no gol Atleticano até tocar a trave e se perder para o longe. “Não é milagre. É Atlético Mineiro”.

Os gritos, antes de “EU ACREDITO!” deram lugar a um “eu não acredito” emocionado e entre soluços. Todos se abraçavam. Eu olhava para meus amigos, tentava reparar o olhar de cada um dos 56 mil, era difícil de acreditar que a América, enfim, havia se rendido ao preto e branco Atleticano. Muitos choravam, eu, particularmente, prefiro guardar as lágrimas para momentos tristes em que elas são inevitáveis. Aquele era o momento do sorriso guardado desde que fui concebido. Era um pecado o Mineirão não possuir mais 10 milhões de lugares, nenhum Atleticano merecia perder aquela festa.

Antes mesmo de Réver erguer a América, eu tentava imaginar o que aquilo tudo significava. Depois de anos chegando perto de uma grande conquista, os Atleticanos de 77, 80, 81, 87, 99, 2001, 2009, 2012 poderiam comemorar a conquista de um continente. Os pênaltis guardados com rancor no coração do Atleticano por conta da disputa na final do Brasileirão de 1977, nesta Libertadores haviam se tornado nossos melhores amigos. Minha cabeça vagava, por um instante consegui esquecer que havia vida após a Libertadores. O Mineirão era, mais do que nunca, nosso. A América era finalmente minha, sua, dos garotos que mataram aula no Parque Municipal, de todos atleticanos que já pisaram no planeta e do Victor, do Lee, do Giovanni, do Marcos Rocha, do Michel, do Carlos César, do Réver, do Leonardo, do Gilberto, do Rafael, do Sidmar, do Jemmerson, do Richarlyson, do Júnior, do Pierre, do Leandro, do Josué, do Lucas, do Rosinei, do Ronaldo, do Guilherme, do Leleu, do Bernard, do Luan, do Berola, do Tardelli, do Alecsandro, do Jô, do Cuca e seus assistentes, do Kalil, do Belmiro, do GALO!

O final do dia 24 e início do dia 25 de julho se tornaram o dia mais Atleticano da história até hoje, muitos dias assim ainda estão por vir.

Foi o título que todos nós sonhamos. E prova de que ele estava reservado para o Galo é que ele veio da maneira mais Atleticana possível, afinal, “se não for sofrido não é Atlético”.

Vivam este sonho, ele não tem fim!

NÃO ACORDEM, MASSA!

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