Me preparei para ir ao Mineirão e, diferente de alguns, não tinha medo de sair do nosso tão querido Horto. O Gigante da Pampulha é e sempre será nossa eterna casa. É de lá que vieram nossas histórias e seria hoje que continuaríamos a escrevê-las depois de algumas décadas de sofrimento. Não tinha dúvida quanto a camisa, muito menos o cachecol: seriam os mesmos que me acompanharam contra o São Paulo, contra o Tijuana e contra o Newell's. Viraram amuletos de fé e seria um erro retirá-los.
As horas não passavam, mesmo ao redor do estádio. A ansiedade já tomava conta e via Atleticanos de todos os jeitos: sorrindo, roendo as unhas, comemorando previamente, desesperados por medo de ocorrer alguma catástrofe... Mas todos com a certeza que seria nosso dia.
Finalmente, vai começar o jogo. De joelhos, como sempre faço desde o ano passado, fiz a seguinte prece: "Senhor, sei que é pecado pedir por futebol, mas olhe por nós Senhor. Olhe para essa Massa que já tanto sofreu, em décadas e mais décadas que nunca pareciam terminar. Senhor, eu sei que o Senhor tem algo muito bom separado para nós, Atleticanos. Foram tantas provações que não há nada que justifique mais um fim triste. Senhor, ilumine a camisa preto e branca que cada jogador estiver usando. Ilumine a chuteira dos atacantes, ilumine as luvas do nosso goleiro, ilumine a cabeça do nosso treinador. Senhor, ilumine essa Massa. Deixe que nós, o décimo segundo jogador, entremos ainda mais no campo. Nos ilumine, nos abençoe e faça com que este fim seja como deve ser: feliz. Obrigado por ter me feito Atleticano, Senhor. Que seja feita a Sua vontade e que essa seja de nos ver campeões. Amém".
Seriam 90 minutos de pura tensão. Na verdade, um pouco mais. Não havia outra alternativa a não ser escrever nossa história ali. Ah, se meu avô pudesse ver como esse Atlético deixa brilho nos olhos... Ah, se os torcedores de 78 pudessem renascer e assistir uma cobrança de pênaltis dramática, porém vitoriosa... Ainda não caiu a ficha de que conseguimos reverter nosso "azar eterno". Qual Atleticano nunca desconfiou do Galo, mesmo que esse fosse imparável? Desta vez, até o mais cético esqueceu dos detalhes, dos erros. O mais ateu agradeceu a santa junto com o Cuca. O mais corneta entoou o nome de todos os jogadores. O mais pessimista acreditou até o final. O mais sonhador acordou para ver Réver levantar a taça. Campeões da América. Bem vinda minha pequena Libertadores! A galeria Vilibaldo Alves é seu lugar, as nossas mãos é o seu lugar, o NOSSO Galo é o seu lugar.
Ao sair do campo, senti uma pequena garoa cair dos céus e tive a certeza que esse título não foi só dos Atleticanos que aqui estão, mas sim de todos, inclusive os que estão lá no céu. A garoa fina foi o choro de alegria destes que estão em um lugar melhor, para lavar nossa alma e dizer, sem expressar uma palavra: "eu sabia que este dia iria chegar. Eu sempre acreditei no Galo. Eu sempre acreditei em vocês".
Se tudo isso for um sonho, não me acordem. Eu quero viver a eterna alegria de ser Atleticano.
Obrigado, Galo!
Rafael Orsini
Espetacular esse texto, o amor de um atleticano é um sentimento sem explicação. Viva a nós, viva o Galo!
ResponderExcluirUm dos seus melhores texto Orsini,parabéns.
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