Em 03 de Março de 1978, dois dias
antes do jogo entre Atlético e São Paulo que decidiria o Campeão Brasileiro de
77, o maior inimigo do vento, Roberto Drummond, escreveu uma crônica no jornal sobre
um pesadelo que tivera. No pesadelo, o holandês Cruyff aparecia como personagem
e dizia que viera para Belo Horizonte para torcer pelo Atlético e para evitar
um desastre. No sonho do escritor atleticano o gênio holandês havia substituído
Reinaldo, que não jogaria aquela partida. No jogo Cruyff havia feito um gol,
mas o São Paulo virou o jogo e tirou o título do Galo. Após a partida Cruyff
dizia que o temor dele havia acontecido, quando questionado como, a resposta
foi descrita por Drummond desta forma “Não basta ser melhor – desabafou Cruyff.
– Como o Atlético é melhor que o São Paulo, nós também éramos melhores do que
os alemães. E perdemos...”.
Creio que a ideia de Roberto
Drummond ao escrever a crônica fora alertar aos atleticanos que o clima de oba-oba não poderia acontecer, pois nada estava ganho. Assim como em 74, quando a o
carrossel holandês de Cruyff perdeu a Copa do Mundo para a Alemanha.
Os atleticanos da época, provavelmente, não acreditaram que tal desgraça poderia aconter. Mas o certo é que o pesadelo de Drummond se tornou realidade. Cruyff não vestiu a 9 de Reinaldo, mas a derrota nos pênaltis tirou o título do time “imbatível”.
Os atleticanos da época, provavelmente, não acreditaram que tal desgraça poderia aconter. Mas o certo é que o pesadelo de Drummond se tornou realidade. Cruyff não vestiu a 9 de Reinaldo, mas a derrota nos pênaltis tirou o título do time “imbatível”.
Mais de trinta e quatro anos se
passaram desde o texto de Drummond. Reinaldo já não demonstra genialidade em
campo, Cruyff tampouco; embora o campeonato esteja em momento diferente do
relatado na crônica, vejo algumas semelhanças no Atlético de 77/78 e o de hoje. A história que vou contar, embora baseada na de 78, tem final e personagens
diferentes da que Roberto Drummond contou há 34 anos.
O sono da madrugada (eram 03:46 da manhã) criou uma
imagem perfeita do Mineirão, ainda não estava dormindo, não era um sonho, embora
parecesse muito real. O ônibus atleticano, que traria os jogadores estava
chegando ao estádio. Para recepciona-lo, os torcedores faziam um show com sinalizadores,
por conta desses a fumaça próxima ao hall do Mineirão formava uma verdadeira
neblina.
O ônibus atleticano parou em
frente ao Hall e os jogadores foram descendo um a um. A fumaça dificultava a identificação deles logo em que eles desciam do ônibus. Eles passavam bem
perto de onde eu estava, conseguia até mesmo dizer palavras rápidas, de incentivo, a cada
um deles.
A festa da torcida, com os
sinalizadores continuou mesmo após a entrada dos jogadores. Fiquei no portão do
Hall principal por mais algum tempo e em meio a fumaça, quem se aproximava era Franz
Beckenbauer, embora o ano fosse 2012, seu aspecto físico era o mesmo de 1974.
Logo que vi, perguntei:
- Beckenbauer? Veio assistir ao
jogo?
- Mais que isso, vim para marcar
Cruyff, já fiz isso uma vez, em 74 e farei de novo.
Assim que ouvi a resposta, lembrei-me
da crônica que Roberto Drummond havia escrito há 34 anos. Algumas dúvidas
permaneciam em minha cabeça, logo falei:
- Mas Beckenbauer, receio que você
tenha chegado um tanto tarde...
- Não, vou lhe explicar –
respondeu Beckenbauer. – Em 1974, a Holanda tinha um time melhor, mas a
Alemanha tinha algo que os holandeses não tinham e hoje eu vim aqui para
colocar isso no time do Atlético.
- O que é? – perguntei.
- Humildade. – continuou Beckenbauer
– O time holandês imaginava que poderia fazer gol quando bem imaginasse.
Futebol não é assim. O principal rival do Atlético hoje é ele mesmo. A
humildade vencerá essa partida. O jogo de hoje é fundamental.
- Logo no dia que estamos sem
Réver? – questionei.
- Estão sem Réver, mas com
Victor, Marcos Rocha, Leonardo Silva, Júnior César, Pierre, Donizete,
Ronaldinho, Danilinho, Bernard, Jô e mais um banco de reservas de dar inveja. Sabe, vejo
muita semelhança nesse time do Atlético com a Alemanha de 74. Já percebeu isso?
- Já, o time alemão de 74, apesar
de ter você e Gerd Müller como principais craques, era raçudo, nem
sempre a técnica se sobressaia. – perguntei.
- Exatamente – continuou Beckenbauer
– não poderíamos vencer a Holanda na técnica, eles tinham
Cruyff, mas nós tínhamos
o coração, a vontade, e acima de tudo, a humildade.
Como sonhos não têm compromisso
com a realidade e nem com a ordem que os fatos acontecem (isso segundo o
próprio Roberto Drummond), começou o jogo e no lugar de Réver, vi Beckenbauer
vestindo a camisa nº 5 do Galo e levando a faixa de capitão. O uniforme todo em
branco que o Atlético usava naquele dia fazia a imagem de Beckenbauer ali ser
muito parecida com a do jogador que vestia a camisa 5 da seleção alemã de 38 anos atrás. No jogo, o Atlético de Bekenbauer corria como se fosse o jogo da
vida de cada um. O alemão jogava como líbero e assim que aos 45 minutos do
tempo complementar de jogo, Beckenbauer desarmou Cruyff e saiu jogando, o time
trocou passes, a bola passou pelos pés de cada jogador em campo até morrer no
fundo das redes do adversário, a humildade havia desarmado a soberba, o Atlético havia vencido seu principal adversário.
O Atlético era o campeão, e eu tinha visto o time sair da segunda divisão em 2005 e ser reconstruído, assim
como Berlim fora reconstruída após as duas grandes Guerras Mundiais.
Admirando a festa da Berlim atleticana, reencontrei Beckenbauer, e ele me disse:
Admirando a festa da Berlim atleticana, reencontrei Beckenbauer, e ele me disse:
- Viu só? Aconteceu o que eu
havia dito, o Atlético venceu o principal rival, a soberba.
- Mas como isso foi possível,
Beckenbauer? – falei.
- Não basta ser o melhor – disse Beckenbauer
sorrindo. – A Holanda também era melhor que a Alemanha em 74.
- O que isso quer dizer? –
insisti.
- Ouça – falou Beckenbauer. - O
Atlético tem mais que um bom time, tem humildade. Se continuar assim boas coisas virão.
- Fica o aviso ao time
Beckenbauer, nem sempre a técnica vai prevalecer, o time tem que jogar com coração na ponta da chuteira.
- Fica o aviso. – disse
Beckenbauer - O Atlético tem que se manter assim e jogar com humildade e vontade amanhã e no restante do campeonato.
ABRAÇÃO MASSA!
Matheus Canazart
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ResponderExcluiresses jogadores fdps podiam ler esses textos, se inspirar em coisas assim, para levantarmos o caneco !
ResponderExcluirHumildade o time do Galo esta tendo, harmonia e conjunto...
Se continuarmos nesse pique e jogando desse jeito, com mais algumas peças iremos ser "campeãos"
Biiiica Galo Doido
mitou no texto!
ResponderExcluirRealmente o espírito de campeão está sobre o Atlético. Digo isso, pois vejo após muitos anos, uma equipe verdadeiramente competitiva, empenhada e focada em algo maior! Estão todos em sintonia: a torcida, os jogadores, Kalil e o Cuca. @ailtonsarmento
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