quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aprendendo com os Gênios

Em 03 de Março de 1978, dois dias antes do jogo entre Atlético e São Paulo que decidiria o Campeão Brasileiro de 77, o maior inimigo do vento, Roberto Drummond, escreveu uma crônica no jornal sobre um pesadelo que tivera. No pesadelo, o holandês Cruyff aparecia como personagem e dizia que viera para Belo Horizonte para torcer pelo Atlético e para evitar um desastre. No sonho do escritor atleticano o gênio holandês havia substituído Reinaldo, que não jogaria aquela partida. No jogo Cruyff havia feito um gol, mas o São Paulo virou o jogo e tirou o título do Galo. Após a partida Cruyff dizia que o temor dele havia acontecido, quando questionado como, a resposta foi descrita por Drummond desta forma “Não basta ser melhor – desabafou Cruyff. – Como o Atlético é melhor que o São Paulo, nós também éramos melhores do que os alemães. E perdemos...”.

Creio que a ideia de Roberto Drummond ao escrever a crônica fora alertar aos atleticanos que o clima de oba-oba não poderia acontecer, pois nada estava ganho. Assim como em 74, quando a o carrossel holandês de Cruyff perdeu a Copa do Mundo para a Alemanha.

Os atleticanos da época, provavelmente, não acreditaram que tal desgraça poderia aconter. Mas o certo é que o pesadelo de Drummond se tornou realidade. Cruyff não vestiu a 9 de Reinaldo, mas a derrota nos pênaltis tirou o título do time “imbatível”.

Mais de trinta e quatro anos se passaram desde o texto de Drummond. Reinaldo já não demonstra genialidade em campo, Cruyff tampouco; embora o campeonato esteja em momento diferente do relatado na crônica, vejo algumas semelhanças no Atlético de 77/78 e o de hoje. A história que vou contar, embora baseada na de 78, tem final e personagens diferentes da que Roberto Drummond contou há 34 anos.

O sono da madrugada (eram 03:46 da manhã) criou uma imagem perfeita do Mineirão, ainda não estava dormindo, não era um sonho, embora parecesse muito real. O ônibus atleticano, que traria os jogadores estava chegando ao estádio. Para recepciona-lo, os torcedores faziam um show com sinalizadores, por conta desses a fumaça próxima ao hall do Mineirão formava uma verdadeira neblina.

O ônibus atleticano parou em frente ao Hall e os jogadores foram descendo um a um. A fumaça dificultava a identificação deles logo em que eles desciam do ônibus. Eles passavam bem perto de onde eu estava, conseguia até mesmo dizer palavras rápidas, de incentivo, a cada um deles.

A festa da torcida, com os sinalizadores continuou mesmo após a entrada dos jogadores. Fiquei no portão do Hall principal por mais algum tempo e em meio a fumaça, quem se aproximava era Franz Beckenbauer, embora o ano fosse 2012, seu aspecto físico era o mesmo de 1974. Logo que vi, perguntei:

- Beckenbauer? Veio assistir ao jogo?

- Mais que isso, vim para marcar Cruyff, já fiz isso uma vez, em 74 e farei de novo.

Assim que ouvi a resposta, lembrei-me da crônica que Roberto Drummond havia escrito há 34 anos. Algumas dúvidas permaneciam em minha cabeça, logo falei:

- Mas Beckenbauer, receio que você tenha chegado um tanto tarde...

- Não, vou lhe explicar – respondeu Beckenbauer. – Em 1974, a Holanda tinha um time melhor, mas a Alemanha tinha algo que os holandeses não tinham e hoje eu vim aqui para colocar isso no time do Atlético.

- O que é? – perguntei.

- Humildade. – continuou Beckenbauer – O time holandês imaginava que poderia fazer gol quando bem imaginasse. Futebol não é assim. O principal rival do Atlético hoje é ele mesmo. A humildade vencerá essa partida. O jogo de hoje é fundamental.

- Logo no dia que estamos sem Réver? – questionei.

- Estão sem Réver, mas com Victor, Marcos Rocha, Leonardo Silva, Júnior César, Pierre, Donizete, Ronaldinho, Danilinho, Bernard, Jô e mais um banco de reservas de dar inveja. Sabe, vejo muita semelhança nesse time do Atlético com a Alemanha de 74. Já percebeu isso?

- Já, o time alemão de 74, apesar de ter você e Gerd Müller como principais craques, era raçudo, nem sempre a técnica se sobressaia. – perguntei.

- Exatamente – continuou Beckenbauer – não poderíamos vencer a Holanda na técnica, eles tinham 
Cruyff, mas nós tínhamos o coração, a vontade, e acima de tudo, a humildade.

Como sonhos não têm compromisso com a realidade e nem com a ordem que os fatos acontecem (isso segundo o próprio Roberto Drummond), começou o jogo e no lugar de Réver, vi Beckenbauer vestindo a camisa nº 5 do Galo e levando a faixa de capitão. O uniforme todo em branco que o Atlético usava naquele dia fazia a imagem de Beckenbauer ali ser muito parecida com a do jogador que vestia a camisa 5 da seleção alemã de 38 anos atrás. No jogo, o Atlético de Bekenbauer corria como se fosse o jogo da vida de cada um. O alemão jogava como líbero e assim que aos 45 minutos do tempo complementar de jogo, Beckenbauer desarmou Cruyff e saiu jogando, o time trocou passes, a bola passou pelos pés de cada jogador em campo até morrer no fundo das redes do adversário, a humildade havia desarmado a soberba, o Atlético havia vencido seu principal adversário.

O Atlético era o campeão, e eu tinha visto o time sair da segunda divisão em 2005 e ser reconstruído, assim como Berlim fora reconstruída após as duas grandes Guerras Mundiais.

Admirando a festa da Berlim atleticana, reencontrei Beckenbauer, e ele me disse:

- Viu só? Aconteceu o que eu havia dito, o Atlético venceu o principal rival, a soberba.

- Mas como isso foi possível, Beckenbauer? – falei.

- Não basta ser o melhor – disse Beckenbauer sorrindo. – A Holanda também era melhor que a Alemanha em 74.

- O que isso quer dizer? – insisti.

- Ouça – falou Beckenbauer. - O Atlético tem mais que um bom time, tem humildade. Se continuar assim boas coisas virão.

- Fica o aviso ao time Beckenbauer, nem sempre a técnica vai prevalecer, o time tem que jogar com coração na ponta da chuteira.

- Fica o aviso. – disse Beckenbauer - O Atlético tem que se manter assim e jogar com humildade e vontade amanhã e no restante do campeonato.

ABRAÇÃO MASSA!
Matheus Canazart

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4 comentários:

  1. esses jogadores fdps podiam ler esses textos, se inspirar em coisas assim, para levantarmos o caneco !
    Humildade o time do Galo esta tendo, harmonia e conjunto...
    Se continuarmos nesse pique e jogando desse jeito, com mais algumas peças iremos ser "campeãos"
    Biiiica Galo Doido

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  2. Realmente o espírito de campeão está sobre o Atlético. Digo isso, pois vejo após muitos anos, uma equipe verdadeiramente competitiva, empenhada e focada em algo maior! Estão todos em sintonia: a torcida, os jogadores, Kalil e o Cuca. @ailtonsarmento

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