terça-feira, 23 de abril de 2013

O Primeiro Não se Esquece

Ainda há gente que diz que “futebol não é coisa pra mulher”. Pois eu sou a prova viva de que há controvérsias. Acompanho tudo, e com orgulho.

Como tudo na vida, há sempre aquele “primeiro” fato que não se esquece: Primeiro dia de aula, primeira vez ao andar de bicicleta, primeiro namoro... O “primeiro” fato que vou relatar aqui foi minha primeira ida ao campo.

Confesso que não tinha muitas perspectivas de ir. Nasci em uma família completamente atleticana, com pais que passaram a maior parte da juventude indo ao Mineirão e comendo o famoso tropeiro. Porém, das várias vezes que eu pedia para ir, sempre havia uma desculpa: “É clássico, não é legal de ir, dá confusão”, “Tá caro o ingresso”, “Cê tá muito novinha ainda”, “É perigoso, tem que ir de turma”, dentre uma infinidade de outros falsos motivos que me davam para que eu não fosse.

Me gerou uma revolta muito grande, claro. Eu me questionava: “Poxa, se tanto meu pai quanto minha mãe iam muito ao campo na juventude, por que eu não posso ir? Ou então por que não me levam? Só me enrolam...” Mas como criança/adolescente não opina (ao menos aqui em casa é assim), eu apenas ficava calada e consentia. Contrariada internamente, mas consentia, fazer o que. Me contentava em ver pela tv. Para amenizar a situação, me tornei a atleticana mais fanática da casa inteira. E ainda sou. Dou fé de tudo.
Os anos se passaram, veio o anúncio de que o Mineirão fecharia para reformas. Naquele momento vi a chance de ir lá ser diminuída em pelo menos umas 10 vezes. Mas minha mãe me olhou, e disse: “Vou te levar lá antes de fechar”. Meu coração se encheu de esperança. Só que... O Mineirão fechou, e nada de Rebecca conhecer o famoso estádio. Com ele, fechou também meu coração. Fiquei muito triste. Me lembro de ter ficado uns bons dias sem falar com minha mãe.

Passou mais um tempo, reabriu o Independência. E eu continuei vendo os jogos pela tv (com uma pressão psicológica, minha mãe cedeu em pagar o pay-per-view para que eu visse todos os jogos como “recompensa” por nunca ter me levado ao campo). Até que um dia, uma grande amiga - Júlia Luíza -, inventou que me levaria de qualquer jeito para ver o Galo jogar. Levei na brincadeira porque né, já tinha ouvido isso tanto que não havia mais esperança alguma pra minha situação. Via amigos e amigas indo sempre, e eu aqui, com 18 anos, e nunca tinha ido porque não deixavam. Praticamente tinha desistido. Me sentia culpada por não apoiar meu time tão de perto, mas eu sabia que o Galo me perdoava por saber que eu não podia fazer nada. Aqui em casa tem que obedecer, independente da idade.

Não pus muita fé na minha amiga, até que me vi dentro do ônibus com ela, indo em direção à sede para a compra dos ingressos. No dia, nem o dinheiro eu tinha, e até isso Júlia providenciou, sempre dizendo “o Galo é maior, relaxa”. Compramos. Com os ingressos na mão eu já tremia e pensava: “Daqui a 3 dias eu vou finalmente ver meu time de perto”. Estava numa empolgação, como se fosse ver o show de um astro internacional famosíssimo que vem ao Brasil 1 vez a cada 10 anos.

Contagem regressiva. Chegou o dia. 17/02/2013. Galo e Araxá. Campeonato Mineiro. Acordei cedo. Culpa da ansiedade, claro. Deu o horário, me vesti a caráter, esperei Júlia chegar, e fomos em direção ao Independência, juntamente com minha irmã.

Chegamos na Pitangui, em frente ao portão 5, onde ficaríamos. Encontrei um amigo, Rafael Orsini, conheci algumas pessoas apresentadas por ele. Meu coração pulsava no mesmo ritmo do ponteiro dos segundos do meu relógio. Abriram-se os portões. Entramos. Cada passo, uma experiência pra mim. Achamos um bom lugar, bem no meio do campo. E daí que a vista era prejudicada? Não me sentei nem mesmo no intervalo.

Entrou o Galo Doido. Fez toda aquela festa de sempre. E aí, veio o time. Naquele instante eu gelei. Me senti dentro da tv. Eu mal podia acreditar no que  meus olhos viam. Aquilo estava realmente acontecendo. O juiz apitou, e naquele instante, meu coração parou. Parou por 90 minutos. Parou pra ver meu time brilhar. 3x0. Saí de alma lavada. Vi meu time me presentear com uma belíssima vitória na primeira vez que o vi jogar pessoalmente. Cheguei em casa, contei a experiência pra minha mãe e pra meu pai, e obviamente estava sem voz alguma. Valeu a pena.

Depois disso, ainda fui ao campo mais outra vez. Mas claro, a primeira ida foi única. Não foi o Mineirão, nem comi do famoso tropeiro, mas já já minha hora chega. E o Independência também é casa nossa. E é lindo! E o importante era ver meu Galo jogar, independente de onde fosse. E isso eu consegui. Afinal, o primeiro não se esquece, principalmente se for primeiro amor. E meu primeiro amor? Ah... É o Galo.

Rebecca Figueiredo

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2 comentários:

  1. comigo foi a mesma coisa...só que foi no mineirão em 2002..a primeira a gente nunca esquece mesmo!

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  2. Me arrepiei de lembrar da minha primeira vez! Putz!!!

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