Ainda há gente
que diz que “futebol não é coisa pra mulher”. Pois eu sou a prova viva de que
há controvérsias. Acompanho tudo, e com orgulho.
Como tudo na
vida, há sempre aquele “primeiro” fato que não se esquece: Primeiro dia de
aula, primeira vez ao andar de bicicleta, primeiro namoro... O “primeiro” fato
que vou relatar aqui foi minha primeira ida ao campo.
Confesso que
não tinha muitas perspectivas de ir. Nasci em uma família completamente
atleticana, com pais que passaram a maior parte da juventude indo ao Mineirão e
comendo o famoso tropeiro. Porém, das várias vezes que eu pedia para ir, sempre
havia uma desculpa: “É clássico, não é legal de ir, dá confusão”, “Tá caro o
ingresso”, “Cê tá muito novinha ainda”, “É perigoso, tem que ir de turma”,
dentre uma infinidade de outros falsos motivos que me davam para que eu não
fosse.
Me gerou uma
revolta muito grande, claro. Eu me questionava: “Poxa, se tanto meu pai quanto
minha mãe iam muito ao campo na juventude, por que eu não posso ir? Ou então
por que não me levam? Só me enrolam...” Mas como criança/adolescente não opina
(ao menos aqui em casa é assim), eu apenas ficava calada e consentia.
Contrariada internamente, mas consentia, fazer o que. Me contentava em ver pela
tv. Para amenizar a situação, me tornei a atleticana mais fanática da casa
inteira. E ainda sou. Dou fé de tudo.
Os anos se
passaram, veio o anúncio de que o Mineirão fecharia para reformas. Naquele
momento vi a chance de ir lá ser diminuída em pelo menos umas 10 vezes. Mas
minha mãe me olhou, e disse: “Vou te levar lá antes de fechar”. Meu coração se
encheu de esperança. Só que... O Mineirão fechou, e nada de Rebecca conhecer o
famoso estádio. Com ele, fechou também meu coração. Fiquei muito triste. Me
lembro de ter ficado uns bons dias sem falar com minha mãe.
Passou mais um
tempo, reabriu o Independência. E eu continuei vendo os jogos pela tv (com uma
pressão psicológica, minha mãe cedeu em pagar o pay-per-view para que eu visse
todos os jogos como “recompensa” por nunca ter me levado ao campo). Até que um
dia, uma grande amiga - Júlia Luíza -, inventou que me levaria de qualquer
jeito para ver o Galo jogar. Levei na brincadeira porque né, já tinha ouvido
isso tanto que não havia mais esperança alguma pra minha situação. Via amigos e
amigas indo sempre, e eu aqui, com 18 anos, e nunca tinha ido porque não
deixavam. Praticamente tinha desistido. Me sentia culpada por não apoiar meu
time tão de perto, mas eu sabia que o Galo me perdoava por saber que eu não
podia fazer nada. Aqui em casa tem que obedecer, independente da idade.
Não pus muita
fé na minha amiga, até que me vi dentro do ônibus com ela, indo em direção à
sede para a compra dos ingressos. No dia, nem o dinheiro eu tinha, e até isso
Júlia providenciou, sempre dizendo “o Galo é maior, relaxa”. Compramos. Com os
ingressos na mão eu já tremia e pensava: “Daqui a 3 dias eu vou finalmente ver
meu time de perto”. Estava numa empolgação, como se fosse ver o show de um
astro internacional famosíssimo que vem ao Brasil 1 vez a cada 10 anos.
Contagem
regressiva. Chegou o dia. 17/02/2013. Galo e Araxá. Campeonato Mineiro. Acordei
cedo. Culpa da ansiedade, claro. Deu o horário, me vesti a caráter, esperei
Júlia chegar, e fomos em direção ao Independência, juntamente com minha irmã.
Chegamos na
Pitangui, em frente ao portão 5, onde ficaríamos. Encontrei um amigo, Rafael
Orsini, conheci algumas pessoas apresentadas por ele. Meu coração pulsava no
mesmo ritmo do ponteiro dos segundos do meu relógio. Abriram-se os portões.
Entramos. Cada passo, uma experiência pra mim. Achamos um bom lugar, bem no
meio do campo. E daí que a vista era prejudicada? Não me sentei nem mesmo no
intervalo.
Entrou o Galo
Doido. Fez toda aquela festa de sempre. E aí, veio o time. Naquele instante eu
gelei. Me senti dentro da tv. Eu mal podia acreditar no que meus olhos viam. Aquilo estava realmente
acontecendo. O juiz apitou, e naquele instante, meu coração parou. Parou por 90
minutos. Parou pra ver meu time brilhar. 3x0. Saí de alma lavada. Vi meu time
me presentear com uma belíssima vitória na primeira vez que o vi jogar
pessoalmente. Cheguei em casa, contei a experiência pra minha mãe e pra meu
pai, e obviamente estava sem voz alguma. Valeu a pena.
Depois disso,
ainda fui ao campo mais outra vez. Mas claro, a primeira ida foi única. Não foi
o Mineirão, nem comi do famoso tropeiro, mas já já minha hora chega. E o
Independência também é casa nossa. E é lindo! E o importante era ver meu Galo
jogar, independente de onde fosse. E isso eu consegui. Afinal, o primeiro não
se esquece, principalmente se for primeiro amor. E meu primeiro amor? Ah... É o
Galo.
Rebecca Figueiredo
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comigo foi a mesma coisa...só que foi no mineirão em 2002..a primeira a gente nunca esquece mesmo!
ResponderExcluirMe arrepiei de lembrar da minha primeira vez! Putz!!!
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