quarta-feira, 11 de abril de 2012

Privando-nos do básico

Era dezembro e, embora mais uma vez terminássemos uma temporada em branco, havia o desejo e a oportunidade de mudá-la completamente; não com um título, mas com o rebaixamento do maior rival. Tal feito dependia somente de nossos jogadores. Seria uma grande festa. Algo saiu errado: veio uma vexatória goleada que ficou e, sem dúvida, ficará marcada por muito tempo na cabeça do Atleticano. Era mais um desgosto para a fanática nação.

Eis que surge uma chance; não de apagar tal vexame, mas de reescrevê-lo de uma forma mais eufêmica. Outra vez, depositávamos a confiança no nosso plantel, mesmo com as falhas por ele apresentadas. A torcida precisava disso. O time tinha de provar que era capaz. Ao menos em um jogo, deveriam honrar um manto que no passado era sinônimo de vitórias. Precisavam trazer de volta a confiança e começar a caminhada de uma nova temporada.

Tinham tudo para conseguir. Mais qualidade, a torcida à favor, ponta da tabela. Fracassaram. Outra vez, deixávamos de vencer o duelo. Cada vez mais, se torna algo rotineiro. Por mais que doa ao Atleticano afirmar, a "freguesia", aos poucos, muda de lado. A supremacia vigora ameaçada pelas decadentes campanhas. O desrespeito aumenta.

Um time que era temido, sinônimo de vingador, perde, ano após ano, sua grandeza. Campanhas ridículas, que não condizem com o tamanho de sua torcida. Goleadas, chacotas e sátiras. Comuns, nos dias atuais. Não existe identidade do jogador com a massa. Não existe paixão e não existe reconhecimento. O que mais dói é depender destes. Corroo-me só de lembrar que ainda estamos no estadual. Outra luta contra o descenso no Campeonato Brasileiro?

A torcida já se cansou. Os mais experientes tentam cessar, sem sucesso. Os mais novos, com menos fanatismo, deixam de lado o clube. Os apaixonados não escondem a decepção. Incomoda. O que mais incomoda é saber que, mantida a inércia atual, a torcida diminuirá, a paciência definitivamente acabará e o gigante, construído pelas glórias do passado, terminará o seu vigorante retrocesso, num abismo sem fim: um clube pequeno. NÃO!

NÃO, Atlético. Não deixe que o que foi apaixonadamente construído desmorone no mundo atual. Não deixe que o dinheiro fale mais alto que a paixão. Precisamos de competência na direção, precisamos de amor à camisa dentro de campo. Precisamos que os jogadores entendam o peso desta camisa para que, só assim, possam defender as cores mais tradicionais do estado. Temos de voltar à ver o hino dentro de campo: "Lutar, lutar, lutar".

É necessário alguém que chame a responsabilidade, que bata no peito e diga: "Aqui é Atlético!". Não podemos deixar que gordinhos caçoem da equipe, que no passado foi honrosamente defendida por Dario, Reinaldo, Éder e tantos outros que ajudaram a construir este gigante. É o espírito deste ídolo que trará de volta o respeito, o reconhecimento nacional, a grandeza. Tudo que hoje o Atlético, infelizmente, deixou de ter. Tudo que sonhamos.

Tento aqui falar bem do Galo, mas não consigo. É preciso ressaltar os fatos. Quando viajo para outros estados e digo que torço para o alvinegro, recebo, em troca, risadas. No exterior, o clube sequer é conhecido pelos mais jovens. Deve doer o coração daqueles que construíram nossa história, saber do atual desconhecimento do time. Não existe mais respeito. O Atlético virou um time comum, fraco e, não fosse sua torcida, já teria tido o seu fim.

Talvez precisássemos de mais "espírito Atleticano", para que voltemos ao cenário esportivo. Raça, determinação e comprometimento. Jogadores empenhados, que honrassem a camisa e fossem dignos de beijar nosso escudo. Hoje nem mesmo a alegria de vencer o maior rival nós podemos ter. Mas quem sabe assim o Atleticano possa trocar a lágrima que escorre do olho por um grande sorriso, estampado junto ao preto e o branco.

Eu quero o Galo de volta!
Pedro Henrique Uchôa


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Edição sobre imagem de: Loucos pelo galo

Um comentário:

  1. Pedro seu texto está fantástico, rico em vocabulário, bem fundamentado nas suas colocações. Parabéns!

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