Saudade

Em anos passados quando se citava o Atlético todos já revelavam seu temor. Porque o Atlético era, acima de tudo, respeitado. A verdade é que durante décadas todo esse respeito conquistado por Dadá, Reinaldo e cia. havia sido deixado de lado. Deixado de lado após desastrosas campanhas, humilhantes vexames - um pleonasmo necessário, dadas as circunstâncias - e situações que não condiziam com a realidade Alvinegra desenhada nas mentes alheias.

Eram campeonatos que iam e vinham sem a menor preocupação. O Atlético participava sem compromisso, apenas para competir, sem honrar o nome do clube ou mesmo sua apaixonada torcida. Goleadas eram frequentes e só davam mais margem para as gozações dos rivais. Algo tinha que ser feito e o alerta era dado ano após ano, até que sete anos atrás, o pior ocorrera. A principal lástima da história Atleticana, talvez, sequer, seria contornada. Só que ninguém contava com a força da torcida atleticana, que lotava os estádios (sim, porque fora de casa também) jogo após jogo e era destaque não só no Brasil, mas em todo o planeta. O time não era uma máquina, mas, com o grito do torcedor, ninguém era capaz de pará-lo. O acesso passou ao status de previsível e o time, então, se reerguia.

Se reerguia mas pouco parecia ter aprendido. Nos anos seguintes, a corriqueira luta contra a degola fazia o pesadelo dos torcedores. Em 2010 foi por pouco. Como se não bastasse, em 2011 veio outro susto. Já passava da hora desta situação ter um ponto final. Já era hora do Atlético voltar a ser o Atlético que todos nós conhecemos.

Vinha então 2012. As expectativas eram as piores possíveis. Um elenco desacreditado, pouco passava confiança aos expectadores. Nos estádios vazios do Campeonato Mineiro a melancolia parecia não ter fim. Falta de ritmo, empolgação e empates amargos e frios. Foi quando Cuca começou seu trabalho que ia muito além das quatro linhas. No segundo jogo da final, ele já parecia ter surtido efeito. Era como uma passagem do inferno ao céu.

No Campeonato Brasileiro tudo voltava aos poucos ao normal. Um time sem estrelas, até mesmo Ronaldinho, porque aqui ele é humilde, mas com esforçados jogadores que se uniram de uma maneira há tempos não vista. Um garoto da base, antes vaiado, virava a jóia de Belo Horizonte. Um atacante que saiu das baladas do Sul do país, para explodir em um elenco em que sobra raça. Uma determinação invejável de Pierre. O próprio Ronaldo, mesmo sem jogar bem, já puxa dois marcadores adversários. Duas laterais que às vezes discretas, guardam uma grande arma.

Claro, ainda é muito cedo para falar ou pensar em títulos. Mas fico muito feliz em saber que os grandes "roubos" do futebol voltam a ameaçar o Atlético. Feliz porque sei que eles só estão presentes quando o time é forte e ameaça os pífios "reis" do esporte. Foi assim em 1981, quando o hoje comentarista da patética Rede Globo nos garfou no maior escândalo futebolístico. Foi assim em tantas outras ocasiões. É assim nesse ano corrente, embora nem mesmo perto do fim ele esteja. Mas jogos que se passaram provaram isso. Neste mais recente "golpe" da CBFla veio mais uma prova desta armação. O medo... O medo de enfrentar o Atlético seja dentro ou fora de seus domínios.

Porque hoje o Atlético é o time a ser batido. Hoje os adversários vêm aqui e se fecham com onze jogadores atrás do meio campo até que sua defesa seja furada pelo nosso ataque. Porque quando joga fora o Galo não recua, não mostra submissão, muito pelo contrário, joga de igual para igual ou até mesmo superior. Porque hoje o Atlético tem um dos três melhores, senão o melhor elenco do Brasil. Hoje eu sei que qualquer reserva que entrar em campo terá não só qualidade, mas também o mesmo empenho dos demais. Qualidade é importante, mas garra é muito mais.

A Corrupção Brasileira no Futebol (CBF) já percebeu que dentro de campo o Galo faz seu resultado, mesmo que envie um mentecapto para "arbitrar" a partida. Foi assim contra o Palmeiras, foi assim contra o Santos e será assim muitas outras vezes. Agora a estratégia é adiar nossos confrontos, na tentativa de parar o time. Só não pensaram que dentro de campo, isso pode se tornar mais um incentivo para que os nossos jogadores busquem a vitória.

Estava com saudades desse Atlético que conheci e que me apaixonei. Hoje tenho ciência da qualidade do elenco Alvinegro, mas não deixarei meus pés saírem do chão, pois sei que os árbitros ainda terão que apitar muitas vezes para que o campeonato tenha um fim. Cresci ouvindo meu pai dizer que "time bom, passa por cima da arbitragem". Hoje tenho muita alegria em dizer que o Galo passa por cima dela e também dos adversários.

Eu quero o Galo de volta...

Pedro Henrique Uchôa

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