quinta-feira, 21 de março de 2013

Herdeiros de D. Alice e Aníbal Machado

O que seria do carro se alguém não tivesse pensado na roda?
O que seria do avião se alguém não sonhasse em voar?

Há 104 anos, um sonho chamado Atlético ganhava vida...
Onze dos vinte e dois garotos que estavam no Parque Municipal há quase um ano atrás inventando um time de futebol, entravam em campo para a primeira batalha, a primeira guerra e ali mudar a história. O adversário, o já conhecido e forte, Sport. A sensação da recém novidade esportiva.

O maior desafio começou realmente na tarde daquela reunião: Como montar um time de futebol com 22 garotos sem renda? Como jogar futebol sem a bola? Como ter adversário se arrumar uniforme já era um quase invencível?

Tudo se resolveu com uma mística que nasceu junto daquele sonho: A massa!
Foram os primeiros patrocinadores daquele time de meninos... Foram o BMG, a Lupo, o Galo na Veia daquela época. Conseguiram a bola. Conseguiram o campo. Conseguiram as camisas, os shorts, os meiões. Conseguiram.

Do lado de fora, D. Alice estreava algo que, se for chamada de torcida, aos outros restam o título de simpatizantes. Além de confeccionar os uniformes, estava consigo uma bandeira com um escudo oval. As cores pretas e brancas dos uniformes e nas laterais do campo mandavam um recado: Aqui, a união de todas as cores e raças será sempre bem vinda.

Era o casamento indissolúvel, inigualável, indispensável. A Massa e o Atlético. Os dois são a corda e a caçamba, o queijo e a goiabada, o terço e a reza. Um não viveria sem o outro dali pra frente.

O jogo, o primeiro do time dos meninos, seria na Avenida Paraná contra o poderoso Sport em um dia chuvoso na ainda infantil e imatura capital mineira. Aqueles meninos seriam presas fáceis ao rival poderoso. Era um amontoado de sonhadores contra um requintado grupo de jogadores já experientes.
O jogo foi difícil, muito difícil. Na casa deles e “torcida” adversária (sim, já existiam alguns simpatizantes ali) além de outras “adversidades” que nunca saberemos. O primeiro tempo ficou zero a zero.  Veio o segundo e do banco, a consagração do primeiro técnico: Entraram Aníbal Machado, o Pingo, Mário Neves, o filho de D. Alice e Zeca Alves.

E foi do futuro escritor Aníbal Machado o primeiro gol a escrever a história do maior de Minas... Pingo, seu apelido, venceu a meta adversária fazendo o primeiro de muitos de sua história e depois os outros dois suplentes completaram o resultado final: 3x0 indiscutível, inapelável, surreal. O Sport pediu revanche e derrotado uma vez mais, acabou-se.  A humilhação era maior que sua arrogância.

O caminho do Atlético foi o contrário... o time dos meninos virou o vingador do povo, o paladino dos operários, dos negros, dos pobres. Mais que isso: Virou parte da vida de muitos e a vida de tantos. Sempre apertado e no vermelho, recorreu a esses seguidores várias e várias vezes para se sustentar. Um não vive sem o outro, lembre-se sempre.

Desse terreno adversário na Avenida Paraná vieram os gramados do mundo pra vencer... De D. Alice, vieram dezenas, centenas, milhares, milhões de seguidores com suas bandeiras, camisas, gorros e algo mais que, daquele escudo oval, transformou em algo de forma de coração. O coração que bate forte do peito com as iniciais Clube Atlético Mineiro.

Quando hoje vamos ao Horto ou a qualquer lugar do mundo comemorar uma vitória do Atlético, de fato, estamos comemorando como, D. Alice, aquele gol do Pingo.
Imagine se aquele gol não sai? Se os meninos não ganham o jogo? Se D. Alice não leva aquela bandeira, enfrenta a torcida adversária e não canta mais alto? Talvez nada disso teria acontecido.
Uma derrota e a soberba, a arrogância, a prepotência da elite triunfariam mais uma vez. Mas não, ainda longe de receber o apelido que completa sua santíssima trindade (Atlético + Massa + Galo), aqueles garotos saíram vitoriosos da “rinha”. Era o nascimento da garra, da raça, da superação. Características marcantes desse clube que se ouve nos quatro cantos do mundo.

Em algum dia em uma mesa de bar ou na igreja, no batizado ou no funeral, na festa ou na guerra e o assunto Atlético aparecer, como sempre aparece em sua vida, alguém vai lhe perguntar qual foi o gol do Galo mais importante em sua rica e vitoriosa história. Lembre-se do Pingo e daquele jogo. Aquele gol foi para o Atlético a sua certidão de nascimento. O sonho realizado do dia 25/03/1908...

Não foi o de Dario em 71 ou algum de Ubaldo e seus gols espíritas. Podem dizer que foi algum de Mário de Castro na goleada de 9x2 contra um time qualquer. Há quem vá defender Reinaldo, Éder e outros falarão da excursão vitoriosa na Europa na década de 50, talvez ressuscitem o Marinho e seu gol de 2006. Defenda nossa história e nunca se esqueça daquele jogo...
Ainda virão outros importantes... as Libertadores, os Mundiais e mais Brasileiros, pergunte para qualquer herdeiro de D. Alice e Aníbal Machado se acredita nisso e ouvirá um sim tão forte quanto um grito de “Gaaaaalo” quando algum foguete estoura. O gol mais importante sempre será o primeiro. Sem ele, o sonho seria apenas um sonho.

Aquela vitória, aquela torcida, aquele gol... Graças a Deus que aquela bola entrou. Graças a Deus, carrego no peito o orgulho de pertencer a essa nação.

Viva os vinte e dois sonhadores! Viva Aníbal Machado! Viva D. Alice Neves! Viva o Clube Atlético Mineiro!

104 anos que vencer, vencer e vencer é o nosso ideal.

Marlúcio Pinho

2 comentários:

  1. de se emocionar... Pra mim o gol mais importante agora é o do Pinho hehehe
    Galo sempre !

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  2. Até q enfim, alguém lembrou do primeiro presidente e fundador do #Galo. Todos lembram de tudo do Galo de 1970 p/ cá. Esquecem q passaram Miquica, Mário de Castro e o trio infernal. Galo não tem só 40 ou 50 anos. Galo está completando 105 anos e tudo começou com esse pessoal aí. Parabéns por lembrar deles. Mas tem muito mais gente para serem lembradas.
    Parabéns.
    Twitter.com/guyafonsocam

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